Reduzir a velocidade máxima permitida na via, como vem sendo proposto pelo vereador Marcelo Sgarbossa em Porto Alegre, é um começo importante para se humanizar o trânsito em nossa capital e evitar cenas como as vistas ontem na frente da Câmara de Vereadores, quando um ônibus colidiu com um caminhão, arrastando-o por 20 metros e ferindo 8 pessoas. A proposta do vereador, se aprovada, mandará um recado importante para aqueles que balançam o pom-pom do carrocentrismo, que acham que tudo se resolve com mais avenidas, mais velocidade e mais estacionamento. Porém é preciso ir além.
Com as avenidas que temos hoje e com a mentalidade dos motoristas, aqueles que respeitam os limites acabam sendo intimidados por motoristas que acham que a via é uma pista de corrida. Agora, se isso acontece com quem usa automóvel, imagine com quem usa bicicleta e anda a uma velocidade bem inferior à dos carros.
Multar ajuda, mas não trabalha preventivamente na solução do problema. Sempre vai ter aquele motorista que vai arriscar porque a probabilidade de ser multado é baixa.
Educação para o trânsito: respeito quem defende, mas acho difícil que traga resultados concretos e mesuráveis. Ouço falar em campanhas de educação desde sempre e a coisa só piora. Além disso, nesse jogo existem regras e a princípio todos são informados delas quando se submetem aos testes de habilitação obrigatórios para dirigir. Se o sujeito sabe as regras e não as cumpre não vai ser uma propaganda de 30s na TV que vai fazer ele respeitá-las.
A única solução 100% efetiva é humanizar o desenho das ruas e fazer com que esse desenho determine a velocidade máxima dos carros.
Vou dar um exemplo bem simples de como isso funciona. Nos últimos meses, eu estive envolvido em um projeto de final de semana no bairro de Southall, no oeste de Londres. Todos os sábados eu ia de bicicleta até lá, usando a Uxbridge Road, uma longa avenida que corta a zona oeste da cidade. Ao longo dos 10km em que pedalava pela Uxbridge, o desenho da rua passava por diferentes formas que alteravam dramaticamente a minha interação com os carros.
Em trechos realmente movimentados, cheio de comércio e pessoas passando nas calçadas, há muitas sinaleiras, três pistas de rolamento, e uma ciclofaixa. Os carros ocupam as duas faixas do meio, andando em fila única na maior parte do tempo. O “corredor” de ônibus muda de lado conforme a necessidade. Quando acaba de um lado, os ônibus se juntam aos carros e uma pista exclusiva surge para os que vem no sentido contrário. A ciclofaixa ocupa o lado oposto da faixa de ônibus já que os ciclistas que usam o lado sem ciclofaixa podem trafegar das pistas exclusivas de ônibus. Vagas para estacionar praticamente inexistem.

Não vou dizer que é uma maravilha porque as vezes é apertado e alguns carros insistem em forçar ultrapassagens perigosas. Mas para o fluxo de carros que passa nessa avenida, o desenho certamente a faz mais segura.
Na mesma avenida, um pouco mais à frente, tudo muda. Somem os pedestres, desaparece o comércio e o que era uma rua estreita e lenta, vira uma freeway com três pistas para cada sentido. A ciclofaixa se mantém, mas é a única semelhança com rua movimentada que ficou pra trás.

Se minutos atrás, as velocidades de carros e bicicletas eram compatíveis, agora os carros passam muito rápido, aumentando o risco de colisões fatais, seja com pedestres, ciclistas ou outros carros.
Os motoristas são os mesmos; assim como os limites de velocidade e os riscos de multa. Então a única variável aqui, que faz toda a diferença, é o desenho da pista.
Concordo que o desenho das ruas e boa sinalização ajudam a resolver o conflito no trânsito, porém discordo de ti em relação à educação. Entendo que a principal saída para melhorarmos o trânsito é através da educação. A educação para o trânsito é um processo continuo, às vezes demorado, mas ela muda a percepção que as pessoas têm do trânsito. E só verificar campanhas educativas que acontecem no RS e que mudam o perfil dos usuários. Veja o exemplo do Balada Segura, que está mudando a rotina de toda uma geração – porém ela não pode se encerrar logo em seguida. A Prefeitura fez a alguns anos a campanha do “novo Sinal”, que empoderava o pedestre na travessia em cima da faixa de segurança. Porém quando os pedestres começaram a utilizar este recurso acabaram com a propaganda. O uso do cinto de segurança é um exemplo de educação para o trânsito que deu certo, porém precisamos de anos, talvez uma geração, para ser efetiva. E por último, não adianta nada educar, ter ruas humanizadas, se não forem BEM fiscalizadas. Quando formos educados como sociedade, aí poderemos fazer políticas simples de trânsito.
Cara, primeiro obrigado pelo comentário. Assim, eu não sou contra programas de educação para o trânsito, mas acho que eles tem uma eficácia no mínimo duvidosa quando executados sem se pensar nos objetivos. Por exemplo – um spot de TV que diga que dirigir embriagado é perigoso é apenas chover no molhado. Todos os motoristas habilitados sabem disso porque tiveram que aprender as leis de trânsito para estar atrás do volante.
Quando eu penso em educação para o trânsito, acho que deveríamos focar nossos esforços em crianças em idade escolar. Ensiná-las a ser bons motoristas, bons ciclistas e bons pedestres. Isso é efetivo e muda o modo de pensar em uma geração. Mas enfim, isso tudo o que eu tô escrevendo é baseado em nada mais nada menos que os meus conceitos de certo, errado, útil e inútil, achismo puro. Prometo que vou estudar o tema e tentar escrever um post decente sobre o assunto.