Ao assistir ao registro em vídeo de dois repórteres da rádio Gaúcha – @cid_martins e @evelinargenta — pelas ruas de Porto Alegre usando suas bicicletas como meio de transporte, acabei revivendo algumas das sensações que tive quando estive na capital em férias no início do ano.
Carros que aceleram demais, falta de sinalização na rua, excesso de buracos no asfalto e a quase total falta de estrutura da cidade para os que não usam meios motorizados de deslocamento – pedestres inclusos.
Queria aproveitar o registro visual dos intrépidos repórteres para dar os meus palpites para pequenas e breves soluções que não necessariamente envolvem muito dinheiro ou obras gigantes nas ruas da cidade. Soluções essas que eu vejo diariamente e que poderiam colocar imediatamente mais gente nas ruas de bicicleta e incrementar a segurança daqueles que já pedalam.
Começo pelo vídeo de Cid Martins, que cobriu 13km entre Ipanema na zona sul e o Menino Deus. Na primeira parada, ele nos mostra um trecho onde a pista é estreita em uma subida. Os carros, como dá para ver no vídeo, pouco ou nada reduzem sua velocidade. A solução (paliativo talvez, mas melhor do que deixar como está) seria pintar uma ciclofaixa unidirecional. A tinta não impede o motorista de passar perto do ciclista, mas pelo menos vai alertá-lo de que há ciclistas na pista. Em uma subida onde os carros passam rápido, isso é fundamental para dar confiança ao ciclista, que tende a perder muita velocidade. (perdão pela má qualidade da ilustração – claramente torta inclusive e fora de proporção, mas dá pra ter uma ideia).

Logo em seguida, o repórter se depara com uma ciclovia segregada – que na prática nada mais é que uma espaço compartilhado com pedestres. Bem sinalizada e larga, aparentemente. Eu pessoalmente não tenho nada contra espaços compartilhados entre pedestres e ciclistas. Uso inclusive espaços muito mais exíguos do que esse. Exige porém que os pedestres não tomem conta do espaço e que os ciclistas sejam vigilantes.

Mas de uma hora para outra, vai-se embora a ciclovia e fica uma trilha de terra, como mostra a foto abaixo. Não sei se esse projeto da Diário de Notícias segue por esse caminho de terra e ainda está por ser concluído, talvez. Mas o fato é que pelo menos uma calçada deveria existir nesse lugar.

Não há porque colocar as bicicletas a disputar espaço com os carros em uma situação dessas. O melhor a fazer é uma calçada larga para que as pessoas possam caminhar por ali. Claro que com carros passando a 60km/h, 70km/h, 80km/h, 139km/h, há pouco estímulo para que algo além de matagal se desenvolva ali. Portanto, essa pode ser apenas uma calçada compartilhada. A virtual inexistência de pedestres faria que funcionasse como uma ciclovia na maior parte do tempo. Veja abaixo um bom exemplo de como Londres trata essas regiões mortas para pedestres em função do tráfego pesado.
Já o vídeo de Évelin Argenta, que foi da Nilo Peçanha até a Ipiranga, dá bastante destaque para as condições do asfalto e os buracos nas ruas. Eu posso atestar o que ela fala já que eu mesmo fui vítima de um buraco desses e cai em abril passado perto da Santa Casa.
A repórter fala com um taxista e seu passageiro (se alguém entendeu o que eles disseram, por favor, traduza na caixa de comentários por que eu boiei) e com um agente da EPTC, que faz algumas considerações interessantes sobre os ciclistas da cidade.
Ela mostra também aquele que era um meus maiores pesadelos enquanto estava em Porto Alegre. A velocidade dos carros que andam na pista da direita. A 1’20″ no vídeo, um carro passa a centímetros da calçada. Aplicadas regras básicas de física, dá para se inferir que aquele carro está no mínimo muito perto do limite máximo de velocidade da via.

Carros a essa velocidade deveriam se limitar à via da esquerda. Existe uma maneira simples de resolver isso seria aplicar conceitos de traffic calming, com o estreitamento da via deixando espaço para que as bicicletas pudessem passar entre o estreitamento e a calçada. Não me lembro de ver algo parecido aqui em Londres, mas poderia ser algo como aparece abaixo.

Para acompanhar mais debates sobre o assunto por parte dos jornalistas-ciclistas da rádio Gaúcha, siga facebook.com/gauchanopedal